11.30 - Sento-me na estação rodoviária e espero..
Os bancos cor-de-laranja deixam-me nauseada assim como o cheiro a croissant requentado...
"Sala de Espera" diz o letreiro por cima dos presentes, espera? Espera para quê? Para onde?
Para onde se dirige toda esta gente?
São na sua grande maioria idosos, vestes escuras, óculos garrafais e rostos enrugados pelo tempo, pelas intempéries, pela vida. Muitos trazem radiografias, exames e coisas do género, o que me permite deduzir que vão visitar o "senhor doutor", que tal como está bem espelhado nos seus rostos "a coisa não anda nada bem", é a perna que falha, são os rins que empedrecem, é "a mão que já não semeia". Outros falam sobre os filhos que também um dia daqui partiram, á procura de um lugar ao sol nas cidades de betão e cimento.
E toda a gente se dirige para alguma parte, com um objectivo definido ou em mente. Ou não?
Será possivel partir sem destino traçado? Será que existe destino? Partida ou chegada? Ou toda a nossa vida é uma viagem contínua mas ainda assim lenta e irregular? Será que para todas estas pessoas esta é mais uma viagem ou "a viagem"?
Sempre me senti intrigada acerca dos outros, desde sempre que imagino a sensação de estar na pele de outrém, daí esta permanente e perscrutadora observação. Sei no entanto que para compreender o que nos rodeia temos de nos conhecer a nós mesmos e a mim coloco a derradeira questão: Para onde vais?
-Vou para onde a vida me levar, porque acredito nesse destino ainda que ele seja um tanto repressivo e sobretudo na ideia de que somos levados pelas circunstâncias como folhas ao vento, uma coisa leva a outra e quem sabe se esta viagem rotineira até Lisboa seja o ponto de partida para muitas mais.
11.45 - O motorista apressa-se a recolher os bilhetes, subo as escadas e olho em redor, o autocarro vai praticamente vazio, talvez as grandes viagens da vida sejam espirituais e nao físicas...