As palavras são como cerejas...

Tuesday, March 28, 2006

Não me olhes assim...


Não me olhes assim…
Só porque gosto de roer as unhas dos pés…
De pular na cama e desalinhar os teus lençóis tão arrumadinhos e brancos.
De ficar bem agarrada ao meu ursinho Zézé e sussurrar-lhe histórias ao ouvido...
Ele é pequeno como eu, também precisa de uma mamã, ainda que pequena e desajeitada…
Não me ralhes se sujei o vestido que avó Bina me deu ou se espreito pela janela fazendo caretas aos vizinhos…
Eles sabem-me pequenina, tu é que não…
Nunca mais os teus olhos foram os mesmos, não na forma de me olhar, de me perceber, talvez seja por sermos parecidas…
Se pudesse fazia de ti meu maridinho e de mim uma senhorinha, só para te ver sorrir como antes…
Sim, podes chorar que eu abraço-te como faço com o Zézé e ficamos os dois numa conchinha a choramingar baixinho…
Não me olhes assim papá…
Não agora que a mamã se foi…

Monday, March 27, 2006

GosTU-te

a tua timidez, os teus olhos indefiníveis, a tua boca carnuda,as tuas alergias,o teu toque, as tuas manias, o teu sorriso, os teus sinais, o teu isolamento, a tua lingua ágil,a tua complicação, a tua fragilidade e a tua força incrivel,a tua teimosia, o teu corpo.Tu.
E no entanto, sinto que mal te conheço, como posso gostar-te assim?

Moribunda


De repente falar do futuro deixou de parecer pertinente, simplesmente porque ele não existe mais. Levar uma vida completamente virada para o que poderá vir a ser deixou de fazer sentido. E a contemplação que antes se confundia com ócio parece-me a única saída. E è a contemplar o infinito azul do mar que vos deixo esta ultima mensagem, agora que as réstias de esperança me abandonaram e me sinto mais lúcida que nunca para escrever, uma lucidez tão aguda que me rompe por dentro, rasga todo o meu ser e a minha essência em pequenos pedaços que bóiam agora pela praia fora.
Como lamento todo o tempo perdido, todos os pequenos momentos em que a dor de pensar me atordoou os movimentos, me impediu a felicidade ou a infelicidade e me fez ver a sombra num lugar repleto de sol. Mas porque lamentar-me? De que me serve esta auto-recriminação?
Torno-me agora num centro de forças opostas, bem e mal, luz e escuridão, yin e yang pois se um lado meu se desfaz em tristeza, o outro rebenta de felicidade! Sim sou feliz por tudo o que vivi! Sou eternamente feliz e grata por todos os pequenos e grandes momentos que justificam esta merda de fim.
Querem conselhos? Será que alguém no seu perfeito juízo me pediria tal coisa? Sou tão qualificada agora para o fazer como antes… a morte não nos faz ver mais e melhor, a morte é a morte e perdoem-me se não tenho considerações filosóficas acerca do assunto.
Amo-vos e odeio-vos com toda a energia inútil que me resta.
Parto então, nem santa, nem pecadora, apenas mais humana porque não há nada de mais humano que a morte.