As palavras são como cerejas...

Monday, March 27, 2006

Moribunda


De repente falar do futuro deixou de parecer pertinente, simplesmente porque ele não existe mais. Levar uma vida completamente virada para o que poderá vir a ser deixou de fazer sentido. E a contemplação que antes se confundia com ócio parece-me a única saída. E è a contemplar o infinito azul do mar que vos deixo esta ultima mensagem, agora que as réstias de esperança me abandonaram e me sinto mais lúcida que nunca para escrever, uma lucidez tão aguda que me rompe por dentro, rasga todo o meu ser e a minha essência em pequenos pedaços que bóiam agora pela praia fora.
Como lamento todo o tempo perdido, todos os pequenos momentos em que a dor de pensar me atordoou os movimentos, me impediu a felicidade ou a infelicidade e me fez ver a sombra num lugar repleto de sol. Mas porque lamentar-me? De que me serve esta auto-recriminação?
Torno-me agora num centro de forças opostas, bem e mal, luz e escuridão, yin e yang pois se um lado meu se desfaz em tristeza, o outro rebenta de felicidade! Sim sou feliz por tudo o que vivi! Sou eternamente feliz e grata por todos os pequenos e grandes momentos que justificam esta merda de fim.
Querem conselhos? Será que alguém no seu perfeito juízo me pediria tal coisa? Sou tão qualificada agora para o fazer como antes… a morte não nos faz ver mais e melhor, a morte é a morte e perdoem-me se não tenho considerações filosóficas acerca do assunto.
Amo-vos e odeio-vos com toda a energia inútil que me resta.
Parto então, nem santa, nem pecadora, apenas mais humana porque não há nada de mais humano que a morte.

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